sábado, 29 de março de 2014

Resignado.

Olho para ti
entre as luzes que entram pela janela
de teu quarto ao amanhecer: você permanece lá
intacta, perfeita e decidida.
Nada fere mais minha vontade
que sentir seu domínio sobre mim.
Sabemos, como apostadores, dos riscos contidos
em nossas palavras; então, quando a mentira chegar
não esquive-se dela e use-a quando convir,
pois sempre trocarei a minha parte da verdade
pelo sabor do seu corpo.

domingo, 23 de março de 2014

Mantra.

Em meus secretos ritos pessoais
repito seu nome como um mantra sagrado.
Mentalizo os instantes em meu intimo,
buscando a sensação ainda gravada
de seus cabelos em minhas mãos, de nossas bocas juntas
e de minha boca em seu corpo, manipulada em transe por seus feitiços:
desde teu perfume como incenso
à seu jogo de olhares, que como dizem, parecem brilhar mais que o comum.
Seu nome é meu mantra,
e repito tentando purificar meus dias que se vão - peregrino pela
cidade vazia a noite como um eremita,
buscando uma revelação desse sentimento de força crua
que começa insistir em não sair de mim.  

segunda-feira, 17 de março de 2014

Canto de uma nova sereia

Ponho na mesa prato pra três, pois servirá
à mim, à você e às nossas mentiras.
Vem-me algumas lembranças desbotadas
pelos pequenos arrependimentos, que mesmo na curva dos dias
jamais se apagam por completo e me fazem ainda levar
a alcunha malévola de um traidor.
Conjurávamos palavras de peso, sobre coisas eternas
e que manteriam pleno nossos corações – quanta ingenuidade
acharmos que nesse vasto mundo, onde tudo é corruptível,
somente nossas paixões sairiam ilesas.
Não abnego convictamente de meus sentimentos,
apenas não sei, entre tantas ruínas, como construí-los novamente.
Olhando a mesa posta, inquieto demais,
espero o canto de uma nova sereia;
que me enfeitice, me faça novamente crer em ilusões
e subitamente me consuma.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Eu, escravo.

Qual memória de mim ainda te deixa inquieta?
Teus olhos fitavam-me com peso
e pouco soube driblar sua vontade: escravo.
Agora, olho-me no espelho e mil outros me olham de volta;
reconheço de imediato aquele que tanto te quer, que se apega
nos detalhes das pequenas histórias
desmesurado demais, e que sempre se lança de peito
sem nunca se importar se está metendo os pés pelas mãos.
Sozinho comigo mesmo, deixo que esse eu que te quer
guiar-me pelos desejos em que você está gravada.