quinta-feira, 31 de julho de 2014

Passos falsos

Eu cavei minha própria cova
quando, olhando nos seus olhos, lhe contei de amor.
Os anos me ensinaram a ser estável, 
a não me doar ao eco de alguém em mim
e possivelmente desprezar os sentimentos mais delicados,
pois esses poderiam ser quebrados como vidro fino.
Então, em outros braços e encantos, protejo minha vaidade
além das lágrimas secretas que escondo em meus cigarros:
tudo pelo medo de que nosso rubro gozo se extingua como água num deserto
e que, entre os dois corações em chamas, só sobrem cinzas
em algum amanhecer.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Cartomante

Não me conformo como pude ter sido tão estúpido em acreditar, novamente, que o amor me salvaria sem cobrar nada em troca; O preço é alto: Agora, afundado nele - Ah! Sou servo sem querer. Essa Dama de Espadas com suas flores, livros e farpas me acorrentam no preto de seus olhos; Uma transe invade meu peito, Apesar disso, nesse fascínio agudo, servil temo e adoro esse seu modo feral e sombrio que, expresso com tanta presença e leveza carrega minha alma torturada, nesse caminho negro, 
ao seu paraíso escuro.

domingo, 13 de julho de 2014

Vertigem.

Sinto vertigem,
Pois o medo me invade, como um animal acuado:
temo cair dentro de você,
de me afundar em seus olhos,
de me perder no breu
já que, como buracos negros que me sugam,
sei que dessa profundeza nada me será devolvido.
A queda é evitada, mas é nela que sentimos
os ventos nos cabelos,
o frio no peito que nos assusta, mas nos fazem pulsar;
a inconstância derradeira nos empurra ladeira abaixo
quando não omitimos nenhuma palavra.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Senhora.

Amargo, deito em minha cama:
já não existem lágrimas para estes olhos
secos e pálidos, igual ao outono em que surgi.
A omissão de ser aquilo que se é, entre a claridade e a escuridão,
impregna-se em meu espírito, somando somente remorso
à noite interminável – neguei-me.
Perdi-me em mil mascarás, cada qual para um mandato;
e defronte ao espelho da vontade, sei que te pertenço
pois quanto mais dou-me a você, sob seus encantos,
menos controlo minhas rédeas.
Assim, como um escravo subserviente,
sinto seu poder, que tanto desejo e temo, em minha pele.

domingo, 6 de julho de 2014

Farsa.

Tento permanecer rígido,
falsa imagem de um jovem homem inquebrantável
indiferente as intemperes cáusticas
que vem com a vida irredutível.
Sinto muito o mundo, e digo a mim mesmo: engula o choro, pois
azedo como fel,
o que virá depois, com as lágrimas, me doerá ainda mais.
Desespero calado com mil subterfúgios para anestesiar o desconsolo;
Quilômetros percorridos, copos vazios, alegrias tragadas, 
tantas bocas consumidas, e em nada disso
encontro algum breve resquício de ti.
Me viro de um lado ao outro da cama – afundo-me entre as
cobertas e travesseiros buscando calor, artificial e solitário,
na falta de seu cálido corpo junto ao meu.