quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Mais um dia de chuva

Mais um dia amanhasse chuvoso em mim
e nada posso contra esse sentimento destrutivo:
Não quero ser, sem você.
Acendo mais um cigarro,
trago fumaça amarga e assopro só saudade – por quê a dor
não se evapora junto?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Cinzas no prato em que comi.

Quando percebi, somente havia crescido
 a sombra atrás de mim;
As cinzas que bati, permanecem no prato em que comi.
Uma vítima que permaneceu como infratora – A acusação: Culpa.
Ah! Com nossos corpos desnutridos de vontade
já não queremos mais um ao outro, mas o tédio desolador
nos forçou ainda, diante da inexistência inevitável, à lassidão e volúpia:
Qual agora nossa escapatória senão sermos escravos do remorso?
Cinzas no prato em que comi.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Solilóquio

As memórias ainda doem na carne: A dor de um coração alvejado
pelas mentiras se perpetua dentro de mim;
As escaras se abrem
e sei que delas nunca haverá salvação ao final.
Perdi a temperança e apostei tudo nessa trama,
mesmo sabendo que o preço do jogo era minha própria ruína.
Agora, tão amargo, perco-me entre a visão nublada por lágrimas,
de um resto vazio, sem fundo nem cor. 

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Deidade

Nesse vasto mundo vazio de sentidos
deposito minha fé pequena em seu altar,
te escolho como deidade e a ti sou devoto.
Pago meu dizimo com sorriso
pois sei que de carne é minha deusa,
e meus pedidos, assim, nunca são tão absurdos:
“Me afugente das sombras do passado,
cobre meu peito de carinho
e me acalme quando a angústia me espreitar”.
Pleno de luz, prosto-me às flores vivas de sua coroa
pelo amor maior
e pela redenção existente em seu corpo.  

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Sina

Rastejo-me entre os escombros
dessa nossa relação extremamente desrazoável:
O instante voraz, marcado por nosso jogo carnal,
se esvaiu antes mesmo de fecharmos os olhos
e deitarmos nossos corações pesados em nosso último leito.
Assim, a dor, a única companheira dos amantes,
nos seguirá aonde quer que formos
enquanto ainda insistirmos em permanecer
distantes um do outro.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Para um amor maior.

Finalmente me deito ao sol:
Alegria maior quando nos temos um ao outro
e, então, brincamos com nossas histórias desventurosas
nos sorrimos intempestivamente desmedidos.
Assim, de você, só vem a mim seus encantos mais bonitos
e banho-me como criança fazendo festa – sob o sol,
sob esse amor da gente, inundo-me da luz.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Passos falsos

Eu cavei minha própria cova
quando, olhando nos seus olhos, lhe contei de amor.
Os anos me ensinaram a ser estável, 
a não me doar ao eco de alguém em mim
e possivelmente desprezar os sentimentos mais delicados,
pois esses poderiam ser quebrados como vidro fino.
Então, em outros braços e encantos, protejo minha vaidade
além das lágrimas secretas que escondo em meus cigarros:
tudo pelo medo de que nosso rubro gozo se extingua como água num deserto
e que, entre os dois corações em chamas, só sobrem cinzas
em algum amanhecer.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Cartomante

Não me conformo como pude ter sido tão estúpido em acreditar, novamente, que o amor me salvaria sem cobrar nada em troca; O preço é alto: Agora, afundado nele - Ah! Sou servo sem querer. Essa Dama de Espadas com suas flores, livros e farpas me acorrentam no preto de seus olhos; Uma transe invade meu peito, Apesar disso, nesse fascínio agudo, servil temo e adoro esse seu modo feral e sombrio que, expresso com tanta presença e leveza carrega minha alma torturada, nesse caminho negro, 
ao seu paraíso escuro.

domingo, 13 de julho de 2014

Vertigem.

Sinto vertigem,
Pois o medo me invade, como um animal acuado:
temo cair dentro de você,
de me afundar em seus olhos,
de me perder no breu
já que, como buracos negros que me sugam,
sei que dessa profundeza nada me será devolvido.
A queda é evitada, mas é nela que sentimos
os ventos nos cabelos,
o frio no peito que nos assusta, mas nos fazem pulsar;
a inconstância derradeira nos empurra ladeira abaixo
quando não omitimos nenhuma palavra.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Senhora.

Amargo, deito em minha cama:
já não existem lágrimas para estes olhos
secos e pálidos, igual ao outono em que surgi.
A omissão de ser aquilo que se é, entre a claridade e a escuridão,
impregna-se em meu espírito, somando somente remorso
à noite interminável – neguei-me.
Perdi-me em mil mascarás, cada qual para um mandato;
e defronte ao espelho da vontade, sei que te pertenço
pois quanto mais dou-me a você, sob seus encantos,
menos controlo minhas rédeas.
Assim, como um escravo subserviente,
sinto seu poder, que tanto desejo e temo, em minha pele.

domingo, 6 de julho de 2014

Farsa.

Tento permanecer rígido,
falsa imagem de um jovem homem inquebrantável
indiferente as intemperes cáusticas
que vem com a vida irredutível.
Sinto muito o mundo, e digo a mim mesmo: engula o choro, pois
azedo como fel,
o que virá depois, com as lágrimas, me doerá ainda mais.
Desespero calado com mil subterfúgios para anestesiar o desconsolo;
Quilômetros percorridos, copos vazios, alegrias tragadas, 
tantas bocas consumidas, e em nada disso
encontro algum breve resquício de ti.
Me viro de um lado ao outro da cama – afundo-me entre as
cobertas e travesseiros buscando calor, artificial e solitário,
na falta de seu cálido corpo junto ao meu.

domingo, 29 de junho de 2014

Aurora

Outro inverno bate na porta
- você não aprendeu nada nesse último ano?
Ainda não sei ficar na solidão, pois meus sonhos me atormentam,
então acordo com meus dedos sujos de sangue todos os dias:
as navalhas cegas agem seu eu controlar.
Ecoam suas palavras tão doces em meus pensamentos,
e me seguro, bato os dentes de frio
e desejo em transe o morno sabor de seu corpo, que repulsaria nessa noite gélida
os corações secos e lixados pelo vazio das ruas percorridas.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Subfísica

Como em um controle de pragas,
tento te eliminar, sabendo que é larva em meu coração;
parasita infeccioso e hostil,
que me consome nas noite sem dormir
que passo pensando em ti.
Mas, nunca há dose suficiente para se esquecer da dor,
e com cólera aguda em meu íntimo, contorço-me de desprazer
penso em nossos dias claros,  cheios de vitalidade e que se foram
e berro desesperado em meu leito, como cria que perdeu quem o criou.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Queda de um jovem ser

Ainda alvejado com as farpas de suas mentiras
rastejo envergonhado pelos campos da vaidade;
e assim, em cada lágrima, se vai meu orgulho tão profundo
junto a um sentimento infindo de impotência.
Do amargo abandono à ríspida indiferença,
você passa todos os dias diante de mim, levando consigo a outra parte minha:
No saldo dessa cisma só resta o retrato imperfeito
de um jovem ser, derrotado
pela fera maior chamada luxúria.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Dor maior.

A banda passa e eu nem ligo: só olho para ti.
Desconcerto-me recordando seu cheiro doce
e sua pele macia como pêra,
assim como o gosto de sua carne em meus dentes.
Ligeiramente dói meu peito, pois sei que talvez
nossos instantes já se foram e não terei mais seu corpo
em meus braços, e muito menos sua boca na minha.
Mas me machuca, uma vez que ainda sinto por você aquele sentimento abrasivo
que mesmo soterrado em meu íntimo, ainda incinera
minhas esperanças de um dia ainda estar contigo novamente.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Irresistência

Toco essa sua pele, de gosto ardente
de cheiro inebriante e secreto, que só
encontro nos contornos de sua nuca;
E, desprotegido como um pássaro abatido
me vejo posto em suas mãos – só os fracos se deixam levar:
confesso que me desarmei, me perdi entre seus sussurros
seus olhares de perto
suas unhas em mim
por minha mísera vontade inundada por você, 
para onde quer que eu vá.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Zéfira.

Fico perto de você,
de modo que o sol tinge com sua claridade
nossos rostos, tão próximos que quase consigo
decorar seus olhares tão raro a mim:
Desencontro palavras pra usar e ver o seu sorriso radiante,
mas teimo de alguma maneira em ganhá-lo
e assim levar o dia áspero em águas calmas.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Supersticioso.

Você é uma mística
e, em meu mundo, suas magias funcionam;
então me olha através das distâncias e percebe
que teu feitiço em meu corpo ficou.
Tua clarividência sabe que te pertenço
assim como os lobos ao luar,
e que  por minhas veias corre seu veneno ardil.
Cerco-me, em vão, de meus amuletos e rezas
para não cair na devoção de seus caprichos:
Quando mais fujo da incerteza, mais em sua trama fico.

domingo, 27 de abril de 2014

Dama de Outono

Novamente sozinho deito em meu leito,
ouço o sussurro do som ao fundo
e me preparo para o esquecimento: tento dormir e não consigo,
pois em cada parte da superfície de minhas mãos
encontra-se a leveza de teu rosto
e o perfume de seus cabelos – fecho os olhos e me forço
a não pensar mais em ti por hoje,
mas mesmo assim permanece cravada em minhas lembranças.
Você que tem tomado todos meus sentimentos,
aonde os guardou nessa noite fria de outono?
Viro-me de lado para o esquecimento: tento dormir e não consigo.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Decifra-me ou devoro-te.

Porque seus olhos sempre me convidam
à ficar um pouco mais,
mesmo sabendo que não posso?
Mais um dia me atrasarei para o serviço
sabendo que ficará deitada, e se virará de lado
na cama desarrumada, tendo mil pensamentos
e em quase nenhum deles eu estarei presente, com certeza.
Gravo o quanto consigo seu olhar indecifrável
e sigo para mais um dia que nasceu sem eu perceber.

terça-feira, 1 de abril de 2014

pelas vias departamentais.

Em toda suas chances você lança
seu charme, mas se rubra tímida ao meu olhar:
rogo então aos regimes burocráticos de horários,
que sempre nos fazem topar em corredores departamentais.
No entanto, você, misteriosamente
foge feita uma felina pelas noites,
e raramente escolhe uma para mim.
Não é que não me seja o bastante esses instantes decisivos,
mas me corrompe a incerteza de te ter ainda amanha ou nunca mais.

sábado, 29 de março de 2014

Resignado.

Olho para ti
entre as luzes que entram pela janela
de teu quarto ao amanhecer: você permanece lá
intacta, perfeita e decidida.
Nada fere mais minha vontade
que sentir seu domínio sobre mim.
Sabemos, como apostadores, dos riscos contidos
em nossas palavras; então, quando a mentira chegar
não esquive-se dela e use-a quando convir,
pois sempre trocarei a minha parte da verdade
pelo sabor do seu corpo.

domingo, 23 de março de 2014

Mantra.

Em meus secretos ritos pessoais
repito seu nome como um mantra sagrado.
Mentalizo os instantes em meu intimo,
buscando a sensação ainda gravada
de seus cabelos em minhas mãos, de nossas bocas juntas
e de minha boca em seu corpo, manipulada em transe por seus feitiços:
desde teu perfume como incenso
à seu jogo de olhares, que como dizem, parecem brilhar mais que o comum.
Seu nome é meu mantra,
e repito tentando purificar meus dias que se vão - peregrino pela
cidade vazia a noite como um eremita,
buscando uma revelação desse sentimento de força crua
que começa insistir em não sair de mim.  

segunda-feira, 17 de março de 2014

Canto de uma nova sereia

Ponho na mesa prato pra três, pois servirá
à mim, à você e às nossas mentiras.
Vem-me algumas lembranças desbotadas
pelos pequenos arrependimentos, que mesmo na curva dos dias
jamais se apagam por completo e me fazem ainda levar
a alcunha malévola de um traidor.
Conjurávamos palavras de peso, sobre coisas eternas
e que manteriam pleno nossos corações – quanta ingenuidade
acharmos que nesse vasto mundo, onde tudo é corruptível,
somente nossas paixões sairiam ilesas.
Não abnego convictamente de meus sentimentos,
apenas não sei, entre tantas ruínas, como construí-los novamente.
Olhando a mesa posta, inquieto demais,
espero o canto de uma nova sereia;
que me enfeitice, me faça novamente crer em ilusões
e subitamente me consuma.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Eu, escravo.

Qual memória de mim ainda te deixa inquieta?
Teus olhos fitavam-me com peso
e pouco soube driblar sua vontade: escravo.
Agora, olho-me no espelho e mil outros me olham de volta;
reconheço de imediato aquele que tanto te quer, que se apega
nos detalhes das pequenas histórias
desmesurado demais, e que sempre se lança de peito
sem nunca se importar se está metendo os pés pelas mãos.
Sozinho comigo mesmo, deixo que esse eu que te quer
guiar-me pelos desejos em que você está gravada.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A presa e a predadora.

Se me encontrar em seus sonhos,
uive para mim:
Lance o feitiço desse seu canto fêmeo,
de respiração ofegante ao meu ouvido
e que ao cravar suas unhas finas nessa carne desiludida
que te espera, do sêmen ao solo,
retirará toda a sensação solitária
de meu corpo que tanto te quer.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Alguém de tão longe.

Sussurre em meus ouvidos
o canto de seus gemidos
que ecoam em minha cabeça,
que por mais que pareça
ainda não foram esquecidos.
Já vivi essa história antes
e ainda assim viveria por mais mil vezes
se a outra personagem fosse você.
Sei que no final um dos amantes sempre sangra,
pois o preço da vontade nos é caro demais;
Apesar disso, me entregaria inteiro novamente
mesmo sem defesa alguma, neste campo de batalha tão estranho a mim
entre os arranha-céus e trens, de ruas tão tortas e infinitos corações partidos.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Corra cara, corra!

Quando esta impaciência transborda meu corpo
é melhor bater as botas no chão
em passadas descontínuas umas com as outras
e, entre elas, você de alguma maneira.
Me olham e pensam: quem é o cara correndo essa hora da madrugada?
Sou aquele que se parar o tempo resseca
e que transformou a distância numa companheira.
Sempre solitário pelas ruas vou,
esbaforindo pra fora a dor
e sugando o quanto posso de calma
para aguentar a falta que você ainda me causa.